Sarampo - Sintomas e Dúvidas
Sarampo
Desde o começo do ano, surgiram notícias na mídia a respeito de casos de sarampo no Brasil, principalmente na região Norte do país. Esse é um assunto que precisa ser esclarecido para que não pegue ninguém de surpresa.
Para isso, o Dr. Francisco Ivanildo de Oliveira Junior, infectologista, respondeu uma série de dúvidas sobre o sarampo, para que você entenda exatamente como é essa doença, como ela se manifesta e como se prevenir contra ela.
Os casos de sarampo no Brasil haviam desaparecido? Por que estão voltando agora?
O último registro de transmissão de sarampo dentro do Brasil havia ocorrido no início de 2015, com surtos em Pernambuco e Ceará. Dali em diante, não houve mais casos de transmissão de sarampo entre brasileiros, apenas de pessoas que vieram de outros países.
A partir de fevereiro de 2018, tivemos casos em Roraima e no Amazonas, trazidos por imigrantes venezuelanos e que contaminaram crianças e adultos brasileiros.
O mais importante a se compreender é que os casos secundários à reentrada do sarampo aconteceram apenas em uma população cuja vacinação era inexistente ou estava incompleta.
A única forma de prevenção é a vacinação?
Sim. O sarampo é uma doença viral, causada pelo chamado vírus do sarampo, e não há uma forma de tratamento para a doença. É por isso que a vacinação, que ocorre em duas doses, uma aos 12 e outra aos 15 meses de vida, é tão importante.
Se uma pessoa na idade adulta ou na adolescência não tem o registro dessas doses na carteira de vacinação, ela deve tomar duas doses, com intervalo de pelo menos 30 dias entre elas.
Caso ela tenha uma dose documentada, então é ideal que tome uma dose adicional, para que tenha duas doses comprovadas da vacina contra o sarampo.
Como o sarampo é transmitido?
A transmissão do vírus do sarampo se dá através do contato com as secreções respiratórias, como através da tosse ou do espirro, para pessoas que estejam ao redor.
Nesse caso, também é possível que o vírus seja transmitido para distâncias mais longas por partículas muito pequenas formadas pelo vírus, conhecidas como aerossóis, que ficam em suspensão pelo ar.
É importante ressaltar que o sarampo começa a ser transmitido antes do aparecimento dos sintomas, ou seja, pessoas que não sabem que estão doentes podem transmitir o vírus.
O sarampo, inclusive, é uma doença altamente contagiosa, com uma taxa de ataque de 90%, ou seja, a cada 10 pessoas não imunizadas que tenham contato com um portador do vírus do sarampo, 9 serão infectadas.
Quem já teve sarampo precisa tomar a vacina?
Não. Porém, para isso, é essencial que o diagnóstico do sarampo tenha sido confirmado em laboratório através de exame de sangue, seja atualmente ou em qualquer caso suspeito da doença.
Através da sorologia, é possível confirmar o aparecimento dos anticorpos que combatem o sarampo. Caso haja relatos de familiares ou conhecidos sobre a doença, mas que não tenham sido confirmados, eles devem ficar sob suspeita.
Isso acontece porque existem outras doenças exantemáticas, que causam manchas vermelhas na pele, que podem ser confundidas com o sarampo.
Caso haja a confirmação laboratorial de que alguém já tenha tido sarampo, não há com o que se preocupar, já que ela estará protegida para a vida inteira.
Se um adulto não tiver certeza de que já tomou a vacina, é possível descobrir através de exames?
Sim, e existem duas possibilidades para isso. A primeira é fazer uma coleta de sangue para dosar os anticorpos e, se eles não existirem, tomar a vacina, enquanto a segunda é já tomar a vacina, sem fazer o exame prévio.
A menos que a pessoa tenha alguma precaução ou contraindicação que faça com que ela tenha que evitar a vacina, é muito mais prático e barato ser vacinado e já ter certeza de que está imune da contaminação por sarampo.
O Hospital Sabará aplica a vacina do sarampo?
O infectologista Dr. Francisco, também diz que o Hospital Sabará não aplica a vacina, porém é importante ressaltar que, até onde se tem notícia, só houve uma contaminação da doença no estado de São Paulo: um adulto, no mês de abril de 2018, que contraiu o vírus em uma viagem ao exterior e que não teve nenhum caso secundário, ou seja, transmissão para outra pessoa.
Nos estados do Rio de Janeiro e do Rio Grande do Sul, já há relatos de casos secundários, de pessoas que viajaram, contraíram o vírus do sarampo e o transmitiram para outras pessoas de seu convívio.
São poucos casos, em torno de 10, mas que já podem nos deixar alertas. A situação é bem diferente do que está acontecendo em Roraima, que já teve mais de 200 casos confirmados, ou no Amazonas, com mais de 400 casos confirmados.
Em qual idade a vacina precisa ser tomada?
De acordo com a recomendação do Ministério da Saúde, pessoas acima dos 50 anos não precisam mais tomar a vacina, já que acredita-se que elas já tenham tido contato com o vírus, que circulava com bastante intensidade antes das décadas de 1970 e 1980 no país.
Entre 29 e 49 anos, as pessoas devem ter uma ou duas doses de vacina, de acordo com a sua faixa etária. Quem não tem certeza se teve a doença ou tomou a vacina, o ideal é que procure um posto de saúde e tome a vacina, que é gratuita.
Qual é o nome da vacina utilizada contra o sarampo?
Atualmente, utiliza-se a chamada tríplice viral, que é uma vacina combinada e protege contra sarampo, caxumba e rubéola (SCR ou MMR).
Existe um reforço da vacina para adultos?
Não. Quem tem duas doses comprovadas da vacina ou já foi contaminado pelo vírus do sarampo está imunizado para a vida inteira.
A proteção da vacina contra o sarampo é completa?
A vacina contra o sarampo é bastante eficiente, já que com duas doses, estima-se uma proteção de 99% contra a doença. Porém, assim como acontece com todas as vacinas, existe uma chance remota de contaminação mesmo em pessoas vacinadas ou que já tiveram contato com o vírus.
Existe alguma contraindicação para a vacina SCR?
A vacina contra sarampo, caxumba e rubéola é feita de vírus vivo atenuado. Os três vírus são enfraquecidos, de modo que estimulem o sistema imunológico a produzir os anticorpos, mas que não farão o corpo adoecer.
Como todas as vacinas de vírus vivo atenuado, é preciso tomar algumas precauções. Existem algumas populações que não devem tomar a vacina, que são as seguintes:
Pessoas que estejam tomando algum tipo de imunosupressor, como corticóides ou pacientes de quimioterapia;
Pessoas que receberam transplantes de órgãos recentemente;
Portadores de HIV, cuja imunidade é mais baixa.
Gestantes ou mulheres que pretendem engravidar nesse período (deve-se esperar pelo menos 30 dias depois de tomar a vacina para engravidar);
Crianças com menos de 6 meses de vida.
Crianças com menos de 12 meses podem tomar a vacina?
O calendário vacinal prevê que essa vacina seja tomada aos 12 ou 15 meses, mas caso haja algum caso de contaminação na creche ou escolinha, por exemplo, crianças a partir de 6 meses de idade já podem tomar a vacina para reduzir os riscos de contaminação.
Nesses casos, porém, é importante ressaltar que a vacina não será considerada como uma dose válida, ou seja, ela terá que tomar as vacinas programadas para os 12 e 15 meses normalmente.
Como proteger as pessoas que não podem tomar a vacina?
Pessoas das populações de risco ou crianças com menos de 6 meses de idade devem garantir que as pessoas que tenham contato com elas sejam vacinadas.
O sarampo produz uma proteção chamada de imunidade de rebanho, ou seja, procura-se vacinar o máximo de pessoas possível, mas não é necessário vacinar 100% das pessoas.
O Ministério da Saúde tem como objetivo vacinar pelo menos 95% da população contra o sarampo, justamente por esse comportamento de imunidade de rebanho, já que a possibilidade de que a doença se dissemine ainda assim é muito pequena.
Mulheres lactantes podem tomar a vacina?
Sim, já que a vacina não apresenta qualquer tipo de contraindicação para mulheres que amamentam.
Desde quando a vacina contra o sarampo é obrigatória?
No Brasil, a vacina é utilizada desde a década de 1970, embora o calendário de vacinação tenha sido modificado ao longo do tempo.
Há pouco mais de 10 anos, as crianças tomavam uma dose da vacina exclusiva contra o sarampo aos 9 meses e depois duas doses da tríplice viral: uma aos 15 meses e outra entre 4 e 6 anos de idade.
Porém, mais recentemente, o esquema foi alterado para o atual, com duas doses da tríplice viral (12 e 15 meses) ou uma dose da tríplice aos 12 meses e uma dose da tetra viral (que também protege contra a varicela, vírus da catapora) aos 15 meses.
Crianças que ainda não tomaram a segunda dose podem antecipá-la?
Sim. Se a criança tiver tomado apenas uma dose, há mais de 30 dias, e tiver a segunda dose agendada para um período mais longínquo, ela pode ser antecipada para garantir a proteção máxima contra o vírus do sarampo.
Se uma gestante for contaminada, ela pode tomar a vacina?
Por ser uma vacina de vírus vivo atenuado, existe um risco potencial para o feto. Porém, mulheres que tomaram a vacina e não sabiam que estavam grávidas não tiveram aumento de risco de abortamento ou algum tipo de malformação congênita nos bebês.
Ainda assim, caso a mulher saiba que está gestante, então a recomendação é evitar tomar a vacina por precaução.
Quais são os sintomas do sarampo?
Além das manchinhas vermelhas na pele, todo o trato respiratório é afetado pela doença, o que inclusive explica o porquê de ser transmitido pelas secreções respiratórias.
Febre, sintomas respiratórios, como coriza, olhos vermelhos com lacrimejamento e tosse e lesões na face interna da bochecha ou na mucosa oral (manchas de Koplik, que costumam aparecer de 2 a 3 dias antes das manchas na pele) também podem indicar um quadro de sarampo.
Outros sintomas mais avançados são aumento do risco de infecções respiratórias (como otite e pneumonia bacteriana); danos ao sistema nervoso central, que podem causar encefalite e quadros graves de diarréia, que podem levar à desidratação.
Além disso, podem existir complicações tardias do sarampo, como a panencefalite esclerosante subaguda, que é um comprometimento do sistema neurológico que pode acontecer depois de muitos anos de contrair o vírus, mesmo que não tenha apresentado sintomas na época.
Quais pacientes são suscetíveis a apresentar graus mais elevados do sarampo?
Crianças com menos de 5 anos de idade (principalmente as menores de 1 ano), gestantes (que podem, em casos mais graves, apresentar abortamento do bebê) e as demais populações de risco.
Vacinação é a melhor prevenção
Com todos esses esclarecimentos, fica muito mais fácil entender a situação que se desenrolou em alguns estados do Brasil, além de saber como é a doença e como ela se manifesta.
A forma mais eficiente de prevenção, sem sombra de dúvidas, é a vacinação, já que depois das duas doses, as chances de que o sarampo se manifeste são irrisórias.